Gênero, raça, classe e formação docente: um exercício interpretativo cartográfico a partir de relatórios de estágio
Resumo
O projeto analisa, com base em referência teórica e interpretação cartográfica, camadas e tessituras emergentes entre os conceitos gênero, raça e classe, em relatórios da disciplina de Estágio de Educação Matemática I, do curso de Matemática-Licenciatura do IFRS-Campus Canoas, entre 2016 e 2023. A relação que buscamos, e que integra esses conceitos, é a interseccionalidade entre os conceitos supracitados e suas pistas no contexto escolar e na formação docente, tendo a diversidade e a inclusão como dois grandes eixos. Essa abordagem transita por narrativas que marcam a semiótica da escola e da formação de professores atravessadas por tensionamentos de um contexto histórico brasileiro violento, problematizado por movimentos sociais, numa conjuntura de uma sociedade, ainda, sustentada pelo capitalismo, racismo e cisheteropatriarcado. Os relatórios de estágio foram disponibilizados por meio da coordenação do curso. Após leitura estruturada, dos resultados obtidos, desenvolvemos formulários e planilhas para registro e organização do corpus. Nesse contexto, a metodologia de pesquisa se caracteriza como básica, de cunho documental-exploratório. No total, foram 42 relatórios analisados: 15 abordaram relações envolvendo classe, 3 voltados a uma perspectiva de gênero, e nenhum tratou diretamente de raça. Além disso, 11 relatórios não mencionaram nenhum dos conceitos. Observou-se também que 13 trabalhos apresentaram observações, entre elas relacionadas à pandemia, indicando tensionamentos em sala de aula, mas sem conectar especificamente com os conceitos estruturantes da pesquisa. Com o predomínio do conceito de classe, foi relatado pelos estagiários(as) a falta de recursos materiais para a elaboração de aulas lúdicas com objetivo no envolvimento integral e a concentração dos alunos no ensino de matemática. A ausência de menções à raça, e poucas referentes a gênero levantam questões importantes sobre o reconhecimento e o combate das desigualdades raciais e de gênero no ambiente escolar, fazendo-nos questionar se realmente essas interações não estavam presentes ou se foram invisibilizadas. Concluímos também, que as particularidades dos estudantes não estão sendo suficientemente visibilizadas ou discutidas nos contextos educacionais, evidenciando um foco maior no aspecto cognitivo desvinculado com outras dimensões que afetam o desenvolvimento humano.