A filosofia como Paideia e a Formação Escolar
Resumo
No Brasil, a lei 11.684 de 2008, instituiu a filosofia como uma disciplina obrigatória
em todos os anos do ensino médio. Em 2019 chegamos a 11 anos de vigor da
legislação, mas em um contexto de crise econômica e polarização social, em que
emerge um projeto conservador avesso ao pensamento crítico e que compreende a
educação a partir do viés utilitarista. A filosofia (assim como as ciências humanas
em geral) é posta em questão dado sua “pouca utilidade” para resolver os
problemas imediatos decorrentes de um momento de crise. É nesse contexto que
precisamos reforçar a pergunta sobre o papel da filosofia na educação escolar.
Certamente a filosofia não tem o mesmo sentido de utilidade das ciências, que são
instrumentais, ou seja, desenvolvem meios, técnicas, estratégias para solucionar
problemas pragmáticos. No entanto, para Chauí (2011), a filosofia pode ser
entendida como um saber útil se superarmos o estreitamento da ideia de útil do
utilitarismo, e compreendermos que há uma utilidade em: a)contrapor-se à
submissão dos saberes predominantes; b) ser consciente de si e do mundo; d)
buscar o esclarecimento; d) incitar a liberdade. Já para Ordine (2016) a importância
da filosofia não se dá pela sua utilidade, considerando que seus saberes não são
meios para nada, mas possuem um fim em si mesmo. Enfim, se assumirmos que a
filosofia não é útil (no sentido do utilitarismo) pois não é instrumento e não produz
meios para algo, qual sua importância? A hipótese para a resolução dessa questão
passa pelo resgate do legado platônico que entende a filosofia como Paideia, ou
seja, como modelo formativo espiritual (intelectual) do homem. Partindo de uma
abordagem situada historicamente, analisamos a função formativa da filosofia na
antiguidade, na modernidade e no pensamento filosófico contemporâneo. A
pesquisa segue metodologia qualitativa, utiliza análise bibliográfica para
desenvolver uma hermenêutica minuciosa, apta para melhor discorrer sobre o tema
reportado. Pretendemos demonstrar que o papel da filosofia na educação escolar
está enraizado no legado platônico e consiste em acionar um processo de formação
espiritual (intelectual) do aluno enquanto homem e cidadão. Esse processo
educativo visa a formação integral que possa assegurar ao homem o exercício
racional, exercício de uma racionalidade autônoma e questionadora, portanto,
consciente de si, livre, e condição para uma sociedade democrática. Compreendida
nesse sentido, como Paideia, a filosofia possui um potencial para o esclarecimento,
para a construção de uma atmosfera social de razoabilidade e tolerância.