A tecnociência e seus impactos.

Resumo

O termo tecnociência é utilizado pelo filósofo Hugh Lacey para denominar a relação indissociável entre ciência e tecnologia, em que aquela perde seu status de busca pela verdade e passa a se determinada por fins econômicos. A autora Bernadette Bensaude-Vincent analisa o trabalho do historiador das ciências Paul Forman, e afirma que existe a partir disso uma inversão da relação ciência/técnica, que marca uma distinção entre a modernidade e a pós-modernidade: na modernidade a ciência possuía valores voltados ao saber e na pós-modernidade seus valores são voltados para a técnica e ao sistema capitalista. Nas últimas duas décadas houve diversos avanços tecnológicos, que acabaram por trazer mudanças para a estrutura da nossa sociedade, de uma maneira tal que cada vez mais se tem a necessidade de mais produção tecnocientífica. Há uma área da tecnociência que tem um papel cada vez mais determinante na reconfiguração econômica e social, a biotecnologia. Com seus avanços e descobertas em busca da “saúde perfeita”, essa potencialidade produtiva, acaba legitimando socialmente as inovações tecnocientíficas e desse modo, os fins sociais são cada vez mais determinados pelo mercado. A corrida tecnocientífica, tendo como objetivo a ampliação desse mercado, não apenas o alterou, mas também a forma das pessoas estarem e se compreenderem no mundo. “Os homens criam as ferramentas e as ferramentas recriam os homens”, nessa citação Culkin (1967), evidencia o que ocorre na sociedade tecnocietífica, os avanços tecnocientíficos recriaram as pessoas, seus comportamentos, seus dinamismos, suas personalidades, suas emoções. Essas transformações na sociedade tecnocientífica acabam interferindo em todas as áreas da ação humana, uma delas é a educação. Pois nesse contexto a educação profissional e tecnológica ganha destaque, tendo em vista seu alto potencial de contribuir com mão de obra qualificada para a expansão dos mercados. Desse modo, ocorre a expansão dos cursos e instituições voltadas à oferta de educação profissional e tecnológica e nas universidades a expansão dos cursos das áreas tecnológicas, refletindo assim uma tendência no capitalismo contemporâneo de aproximação do trabalho das instituições de ensino e pesquisa com as demandas do mercado. O filósofo Hugh Lacey critica a sociedade tecnocientífica, afirma que é muito importante lembrar que o sucesso impressionante da tecnociência em produzir inovações que contribuem para o crescimento econômico, não é suficiente para justificar a sua implementação no mundo da vida. A metodologia utilizada na pesquisa foi a pesquisa qualitativa bibliográfica de tecnociencia e educação profissional, a hermenêutica crítica dos textos se desenvolve principalmente através de debates e reflexões de artigos. Os resultados obtidos nas pesquisas descontextualizadas (pesquisas dissociadas de arranjos sociais, contextos humanos e ecológicos e quaisquer valores) servem especialmente bem aos interesses vinculados a valor do progresso tecnológico e o valor do capital e do mercado, frequentemente em detrimento de outros valores. Portanto, a construção dos fins sociais, inclusive do processo educativo, depende do acionamento de outras racionalidades e valorações que não o aparato técnico.